Em luto, Brumadinho também teme por seu futuro econômico

Foto: Washington Alves/Reuters
O letreiro com o nome de Brumadinho, localizado bem na entrada da cidade de 42.000 habitantes, amanheceu de luto nesta sexta-feira (1º), dia em que a tragédia causada pelo rompimento da barragem da Vale completa exatos sete dias. Cada uma das letras foi envolta por um saco preto de lixo e um sinal de cruz em homenagem aos 110 mortos e 238 desaparecidos no desastre até o momento. O local reflete o sentimento de toda a cidade que, nos último dias, vive imersa em muito sofrimento e angústia. "Brumadinho é uma cidade muito pequena, nós todos nos conhecemos. Todo mundo perdeu algum familiar, amigo ou conhece alguém que está nesta situação. A cidade está uma tristeza só, estamos todos de luto", explica Thainá Ribeiro, de 22 anos, que nasceu na localidade.




Além de lidar com o drama das vítimas da tragédia, alguns moradores já começam a se perguntar como a cidade conseguirá sobreviver sem sua principal fonte de renda: a mineração. Após o rompimento da Mina Córrego do Feijão, a mineradora Vale teve suas atividades suspensas e algumas mineradoras da região também. Atualmente, 60% da arrecadação do município vem da mineração, que também é responsável por grande parte da economia local. Só a Vale, que gera cerca de 2.000 empregos entre funcionários e terceirizados, gera mais da metade da arrecadação quem vem da atividade, segundo a prefeitura. De pequenos a grandes comerciantes, todos dependem do dinheiro que a mineradora faz circular na cidade. O sentimento da população sobre a mineradora é conflitante. Reconhecem que Brumadinho precisa da Vale, mas sentem raiva e indignação pelo desastre e querem justiça.

"A verdade é que o comércio da cidade depende totalmente da Vale, dos funcionários dela. É difícil imaginar o que vai ser de Brumadinho sem ela. Estamos sofrendo muito pelas vítimas, pelos familiares e amigos, queremos justiça, mas também pensando já no que pode vir pra frente, não dá pra não pensar que agora posso perder meu emprego", diz Eliana Patrícia Lisboa, atendente de uma lanchonete do centro.

A questão aflige o prefeito da cidade, Avimar de Melo Barcelos (PV), que afirmou que irá cobrar da mineradora, a segunda maior do mundo, as responsabilidades da tragédia e que a companhia não interrompa o pagamento dos royalties da mineração, chamado de Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem). A Vale é responsável por 65% do Cfem do município, de um total aproximado de 5 milhões de reais por mês. "A verba inicialmente vai continuar, mas quem pode me garantir até quando? Eles ainda não falaram o tempo exato que os royalties continuarão a ser pagos, mas pretendemos ver isso", disse o prefeito ao EL PAÍS. Barcelos pretende negociar com a mineradora para que ela pague o royalties por pelo menos 4 anos. E vai exigir ainda que nenhum funcionário da Vale seja demitido na cidade.

Segundo ele, se o pagamento da compensação for interrompido, a cidade entrará em colapso financeiro. "O dia que parar não sabemos como vai funcionar. Principalmente os serviços essências da cidade —como saúde e educação—, não conseguiremos manter mais", explica Barcelos. "A Vale destruiu nossa cidade, nossas famílias. Vai falir o comércio, vai falir Brumadinho que não sabe como andar daqui pra frente", completou o prefeito ao sair do velório de uma das vítimas da tragédia.

Apesar do desafio financeiro enorme que o município irá enfrentar nos próximos anos, o prefeito explica que, no momento, a preocupação central é resgatar as vítimas e dar um velório digno aos que são encontrados sem vida. "Ainda não tivemos nem cabeça para pensar como vamos fazer daqui para frente", diz. Barcelos comentou, no entanto, que escutou promessas tanto do Governo do Estado, como da Vale, de que a cidade não seria "deixada na mão". "No desastre de Mariana foi falado isso tudo. Mas ajudaram Mariana? Não", disse.

Brumadinho é hoje uma das maiores cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte em área, são: 639,43 quilômetros quadrados, quase o dobro do tamanho da capital que é de 331,40 quilômetros quadrados. Por ser predominantemente rural, o centro da cidade, onde está concentrada mais metade da população, é pequeno. A grande área rural, no entanto, faz com que a segunda principal atividade de Brumadinho seja a agricultura de pequeno porte, que foi atingida pelo tsunami de lama após o rompimento da barragem da Mina Córrego de Feijão. Segundo o IBGE, dos 20.5000 hectares de lavoura, 17.000 são de produtores individuais.

Fonte: El País
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