O Brasil nos obriga a beber. Ou então a tentar algum outro tipo de válvula de escape para tentar sobreviver a essa série de tragédias que não para de acontecer. Quando estamos prestes a nos recuperar, surge uma nova e precisamos atualizar as definições de fundo do poço. Nesta quarta-feira (13) foi a morte de 10 pessoas em uma invasão a uma escola estadual em Suzano, no interior de São Paulo. Depois de matarem oito pessoas, dois jovens se suicidaram.
Hoje, completa um ano da morte da vereadora Marielle Franco e o caso está longe de ter uma solução definitiva. Também não nos recuperamos de outro atentado à democracia, nesse caso a facada no então candidato à presidência da República, Jair Bolsonaro. É assim dia sim e o outro também quando lemos o noticiário – e a culpa não é da imprensa, pois é obrigação das redações reportar o que acontece.
Foi outro dia que assistimos o episódio de Brumadinho, em que mais de 300 pessoas perderam a vida. E a uma idosa de 101 anos estuprada. E à fisioterapeuta baiana que se fingiu de morta após ser esfaqueada a mando do namorado. E a uma criança de seis anos que atingiu o próprio irmão, de oito anos, com uma faca. Não há cabeça sã que consiga acompanhar tudo isso e não ter reação diferente de decepção.
Como se não bastassem os absurdos cotidianos, sobram exemplos ruins que eclodem a partir dessas tragédias. O debate raso sobre armamento ou desarmamento diante do que aconteceu em Suzano, como se fosse possível justificar a cabeça de pessoas desequilibradas que sacaram armas para atingir outras pessoas. Ou as tentativas de minimizar crimes como os praticados contra Marielle e Bolsonaro. Ou a situação de mulheres agredidas que ao invés de serem tratadas como vítimas da violência se tornam as próprias algozes.
Há algum tempo o país voltou seus olhos para os Estados Unidos. Especialmente depois que Bolsonaro chegou ao Palácio do Planalto tendo como inspiração a eleição de Donald Trump como presidente norte-americano. Porém, ao invés de importarmos bons exemplos da terra do Tio Sam, parece que optamos por nos espelhar no que há de pior na sociedade de lá. Principalmente a cultura do individualismo e o culto à personalidade, que pode ser observada em episódios com referências ao massacre de Colombine, como no caso da cidade paulista.
O mito do brasileiro cordial começa a cair por terra e desmorona a cada novo episódio em que lágrimas não são suficientes para virar a página. Não foram poucas as pessoas que compartilharam imagens e até mesmo mentiras sobre todos esses casos citados ao longo do artigo, sob a desculpa do mero desconhecimento, por exemplo.
Ultimamente, se não dá para beber o tempo inteiro ou procurar outro tipo de alternativa para fugir da realidade, não sobram tantas opções. Hoje, eu sentei e chorei.
Este texto integra o comentário desta quinta-feira (14) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM, Clube FM e RB FM.
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