Após lançar o disco “Ok Ok Ok”, Gilberto Gil comentou a situação atual no Brasil, considerada por ele caótica, e falou sobre figuras proeminentes como o presidente Jair Bolsonaro (PSL), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro Sérgio Moro.
“Parece consensual a percepção de que o ‘espírito do tempo’ se manifesta, cada vez mais como um ‘espírito de porco’ (tomando emprestada uma expressão popular pejorativa). As coisas vão de mal a pior, a descrença e o desânimo se abatem sobre a multidão, as soluções se transformam em novos problemas mais complexos, a tentação regressiva ganha cada vez mais espaço e a queixa reverbera altissonante”, comentou o artista baiano, em entrevista ao Estado de S. Paulo.
Sempre muito cobrado por um posicionamento político, ele explicou que o novo álbum veio para responder alguns questionamentos e avaliou a necessidade imperativa de que se tenha opinião sobre tudo atualmente. “A tarefa historicamente atribuída aos formadores de opinião (intelectuais, comunicadores, artistas e tais) de produzirem uma crítica consistente da situação, fica ampliada exponencialmente. Somam-se a esses setores os milhões de anônimos, num jogo alucinante de opiniões e contra-opiniões nas redes sociais, como se houvéssemos chegado, afinal, à ‘Grande Babel’”, avaliou Gil.
Ainda sobre o momento pelo qual passa o Brasil, ele não se mostra muito otimista. “Numa civilização ainda não inteiramente voltada para as promessas do futuro, parcialmente entregue ao anacronismo sócio-político-econômico do passado colonial e neocolonial, tentada a embarcar num arcaico populismo sedutor sob as bênçãos de uma democracia vacilante, o Brasil teima em contrariar nossas expectativas de um novo salto civilizacional”, diz o cantor, acrescentando que pela primeira vez em nossa história, o temor de que a redenção brasileira esteja lidando, não apenas com mais um adiamento, mas com o “fantasma de uma terrível impossibilidade”. “Estamos com medo do futuro. Isso é inédito”, destacou.
Ao ser questionado sobre o que Bolsonaro lhe inspira, ele disse não compreender o atual presidente e que adota os princípios cristãos para a convivência. “Tudo que me coloca diante da incompreensão me inspira a oração. Quando eu não sei o que as coisas são eu oro, medito, peço para que elas se revelem com clareza e adequação. Já antes da sua eleição a presidente eu rezava todo dia para que ele se fizesse suficientemente compreensível para mim e para que eu pudesse também me tornar suficientemente compreensível para ele. Para que nós nos compatibilizássemos em nossas diferenças ( “Amai o próximo como a ti mesmo”). Hoje, ele continua inspirando minhas orações no mesmo sentido”, explicou Gilberto Gil.
Sobre o ministro Sergio Moro, o artista disse que desde sempre “inspirou a contemplação do mistério”. Gil explica que mais que as diferenças entre os ele e o ex-juiz, Moro lhe parece “alguém que é portador do enigma”, “um certo ar permanente de interrogação, um não deixar bem claro aonde quer chegar, o que quer dizer, o que quer provar”. “No Moro, mora um mistério!”, avaliou.
Já sobre o ex-presidente Lula, o cantor disse que lhe inspira “compaixão”. “Sempre foi assim, desde que se tornou porta voz do homem comum, em busca de uma solidariedade irrecusável, de uma irremediável comunhão com a trágica condição humana, de um entregar-se ao ímpeto de soldado destemido na luta pela quimera da emancipação. Lula, é uma pedra bruta, não lapidável”, disse Gil. BN
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