Aprovações para uso de agrotóxicos no país atingem um número preocupante. Do mês de janeiro deste ano até o momento já são 290 liberações de substâncias venenosas. Só neste mês de julho foram 51. Conforme os especialistas, nunca houve um ritmo tão frenético de aprovação de agrotóxicos como agora.
No Brasil, em seis meses, 239 venenos tiveram a comercialização autorizada, contra 229 da União Europeia em oito anos. Entre as substâncias novas liberadas está o sulfoxaflor, princípio ativo que controla insetos que atacam frutas e grãos e estaria relacionado à redução de abelhas polinizadoras, segundo estudos em andamento no exterior. Nos primeiros meses deste ano cerca de 500 milhões dessas abelhas teriam morrido no Brasil, vitimas dos venenos nas lavouras, segundo reportagem da Agência Pública e do Repórter Brasil, com base em relatos de apicultores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul.
De acordo a André Burigo, pesquisador e professor da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), no Rio de Janeiro, a profusão de relatos e pesquisas apontando para casos de contaminação no ser humano e meio ambiente serve para mostrar que é um mito o uso seguro de agrotóxicos. Ele lembra o fato ocorrido em 2007, quando um piloto se esqueceu de fechar o bico do avião e a cidade de Lucas do Rio Verde, em Goiás, foi contaminada. Na época as empresas culparam apenas o piloto. Como consequência, foram relatados casos de infecção de pele e má formação congênita em anfíbios. O lençol freático foi contaminado, resíduos foram encontrados no leite materno, na água da chuva e no ar.
Problemas de saúde podem ocorrer meses, anos ou até décadas após a exposição, manifestando-se em várias doenças, como cânceres, malformação congênita, distúrbios endócrinos, neurológicos e mentais. Está cientificamente comprovado que a utilização continuada de agrotóxicos na produção agrícola aumenta as chances de camponeses desenvolverem quadro depressivo e, com o desenvolvimento da doença, cometerem suicídio. Estudos dão conta que o número de suicídios muito elevado, atingindo especialmente trabalhadores rurais, está ligado ao uso de agrotóxicos. Nos últimos dez anos, mais de 12 mil pessoas tentaram suicídio com agrotóxicos em todo o Brasil. Dessas tentativas, 1.582 resultaram em mortes. Outras 231 tiveram cura, mas com sequelas.
Os efeitos do uso de agrotóxicos são refletidos também na qualidade dos alimentos. Lá em 2011, já se discutia o problema da contaminação dos alimentos com pesquisas específicas sobre o assunto. Naquele ano, quando substâncias venenosas de auto poder de intoxicação não eram utilizadas na lavoura, o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pesquisou 1.628 amostras de alimentos; destes, 36% foram consideradas insatisfatórias. Alimentos como arroz, feijão e cenoura apresentaram amostras insatisfatórias em todos os produtos analisados.
Segundo um levantamento realizado em 2018, com base nos dados do Ministério da Saúde, cerca de 40 mil pessoas foram atendidas no Sistema Único de Saúde (SUS) após serem expostas a agrotóxicos nos últimos dez anos. Desse total, 26 mil pacientes (destes 1.484 foram crianças de até 9 anos) tiveram intoxicação confirmada por médicos, com sinais clínicos como náuseas, diarreias ou problemas respiratórios, ou mesmo alterações bioquímicas no sangue e urina detectadas por exames laboratoriais. A média equivale a sete pessoas intoxicadas por dia.
Por Gervásio Lima
Jornalista e historiador
No Brasil, em seis meses, 239 venenos tiveram a comercialização autorizada, contra 229 da União Europeia em oito anos. Entre as substâncias novas liberadas está o sulfoxaflor, princípio ativo que controla insetos que atacam frutas e grãos e estaria relacionado à redução de abelhas polinizadoras, segundo estudos em andamento no exterior. Nos primeiros meses deste ano cerca de 500 milhões dessas abelhas teriam morrido no Brasil, vitimas dos venenos nas lavouras, segundo reportagem da Agência Pública e do Repórter Brasil, com base em relatos de apicultores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul.
De acordo a André Burigo, pesquisador e professor da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), no Rio de Janeiro, a profusão de relatos e pesquisas apontando para casos de contaminação no ser humano e meio ambiente serve para mostrar que é um mito o uso seguro de agrotóxicos. Ele lembra o fato ocorrido em 2007, quando um piloto se esqueceu de fechar o bico do avião e a cidade de Lucas do Rio Verde, em Goiás, foi contaminada. Na época as empresas culparam apenas o piloto. Como consequência, foram relatados casos de infecção de pele e má formação congênita em anfíbios. O lençol freático foi contaminado, resíduos foram encontrados no leite materno, na água da chuva e no ar.
Problemas de saúde podem ocorrer meses, anos ou até décadas após a exposição, manifestando-se em várias doenças, como cânceres, malformação congênita, distúrbios endócrinos, neurológicos e mentais. Está cientificamente comprovado que a utilização continuada de agrotóxicos na produção agrícola aumenta as chances de camponeses desenvolverem quadro depressivo e, com o desenvolvimento da doença, cometerem suicídio. Estudos dão conta que o número de suicídios muito elevado, atingindo especialmente trabalhadores rurais, está ligado ao uso de agrotóxicos. Nos últimos dez anos, mais de 12 mil pessoas tentaram suicídio com agrotóxicos em todo o Brasil. Dessas tentativas, 1.582 resultaram em mortes. Outras 231 tiveram cura, mas com sequelas.
Os efeitos do uso de agrotóxicos são refletidos também na qualidade dos alimentos. Lá em 2011, já se discutia o problema da contaminação dos alimentos com pesquisas específicas sobre o assunto. Naquele ano, quando substâncias venenosas de auto poder de intoxicação não eram utilizadas na lavoura, o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pesquisou 1.628 amostras de alimentos; destes, 36% foram consideradas insatisfatórias. Alimentos como arroz, feijão e cenoura apresentaram amostras insatisfatórias em todos os produtos analisados.
Segundo um levantamento realizado em 2018, com base nos dados do Ministério da Saúde, cerca de 40 mil pessoas foram atendidas no Sistema Único de Saúde (SUS) após serem expostas a agrotóxicos nos últimos dez anos. Desse total, 26 mil pacientes (destes 1.484 foram crianças de até 9 anos) tiveram intoxicação confirmada por médicos, com sinais clínicos como náuseas, diarreias ou problemas respiratórios, ou mesmo alterações bioquímicas no sangue e urina detectadas por exames laboratoriais. A média equivale a sete pessoas intoxicadas por dia.
Por Gervásio Lima
Jornalista e historiador
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