Viva a democracia! Não que ela esteja vivendo o seu melhor momento no Brasil. Porém foi bom saber que, no mesmo dia, foi possível ver manifestações pró-governo de Jair Bolsonaro e um festival “Lula Livre” nas imediações do Farol da Barra em Salvador. Não deixa de ser uma prova de que, por mais que muitas estruturas democráticas estejam sob questionamento, ainda é possível ter liberdade de expressão no Brasil – tanto a favor quanto contra o governo. Precisamos, sem dúvidas, preservar essa condição.
O domingo começou marcado por mobilizações a favor de mudanças no Supremo Tribunal Federal (STF). Pelo menos era esse o pano de fundo geral das manifestações, que, ao final, foram favoráveis ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e de apoio ao presidente Jair Bolsonaro. Foi um ato menor do que os anteriores realizados nos mesmos moldes, mas ainda assim foi possível reverberar o conteúdo “pró-bolsonarismo”.
À tarde, a defesa da liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acabou tomando corpo em um formato de festival. Segundo relatos, a expectativa por shows musicais de artistas que apoiam o petista foi ligeiramente frustrante. Após algumas poucas músicas, os artistas partiam para a militância política, o que reduziu o impacto de “festival cultural”. Porém, se alguém eventualmente achou que haveria shows, estava errado. O “Festival Lula Livre” é um ato partidário, ainda que insistam em tratar como algo político. Acredito então que ninguém tenha sido enganado a ponto de achar que não aconteceria nada politizado por lá.
Independente de lado, todavia, o que foi relevante no domingo foi o fato de, pelo menos na Bahia, não ter tido nenhum tido de embate entre os manifestantes. Uma mobilização ficou pela manhã e a outra pela tarde. Apesar de coincidir no dia, houve sensatez de não buscarem confrontos diretos de um lado ou de outro. Ponto positivo para a democracia, que sobrevive aos trancos e barrancos no país como um todo. Por mais que sintamos receio do que pode vir a acontecer no futuro, no presente não estamos tão ruins quanto parece.
Torço, sinceramente, para que consigamos seguir nesse ritmo durante muito tempo. Até agora, o acirramento na vida real é bem menor do que nos campos de batalha virtual, onde registramos o tempo inteiro agressões e ataques, muitas vezes desmedidos, apenas por alguém pensar diferente de nós. Mas com entraves cheios de animosidade, entre mortos e feridos, pelo menos neste domingo salvaram-se todos.
Este texto integra o comentário desta terça-feira (27) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Clube FM, Líder FM e RB FM. BN
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