Declarações de Bolsonaro fazem violência policial e desmate avançarem

Declarações de Bolsonaro fazem violência policial e desmate avançarem
Frequentes episódios de excesso por policiais, o aumento no número de pessoas mortas pelas forças de segurança e o avanço do desmatamento na Amazônia têm ocorrido na esteira de declarações agressivas do presidente Jair Bolsonaro (PSL) nessas áreas, publicou o jornal Folha de S.Paulo nesta sexta-feira (9). 

O crescimento nas taxas seria uma consequência do é que chamado "efeito guarda da esquina", que entrou para o vocabulário político após a edição do AI-5, voltou a frequentar o debate público. A imagem resgata um episódio atribuído ao então vice-presidente Pedro Aleixo, que, ao se recusar a assinar o ato em 1968, teria dito que o problema nem era o então presidente Costa e Silva, mas sim o guarda da esquina.

O processo considera que o discurso oficial do presidente, relativizando ações violentas de agentes de segurança, atacando multas do Ibama e dizendo que são falsos os dados de desmatamento acabaria tendo um efeito prático na ponta.

O número de pessoas mortas por policiais militares em serviço no estado de São Paulo, por exemplo, cresceu 11,5% no primeiro semestre deste ano, comparado com o mesmo período no ano passado. No Rio de Janeiro, a polícia foi responsável por 29% das mortes violentas no estado, um recorde registrado nos primeiros seis meses do ano.

Em outro caso de exagero na abordagem policial, no último domingo (4), um torcedor do Corinthians foi retirado da arquibancada pela polícia após ter xingado o presidente. No dia anterior, policiais paulistas abordaram militantes do PSOL num evento fechado. Houve ainda o caso de policiais rodoviários federais que interromperam uma reunião anti-Bolsonaro em Manaus, no fim de julho.

MEIO AMBIENTE
Na Amazônia, houve um salto da taxa de desmatamento de 278% no mês de julho em relação ao mesmo período de 2018, segundo o Detecção do Desmatamento em Tempo Real, sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). No Cerrado, a alta foi de 26%. 

Para o historiador Boris Fausto, o poder de persuasão das autoridades no Brasil sobre a sociedade é muito forte. "Isso é uma coisa que filtra lá de cima e se torna um clima que perpassa a sociedade. Estamos vendo em toda parte, tanto em episódios pontuais como outros mais grotescos, como o fuzilamento de um carro por militares do Exército no Rio de Janeiro [em abril]", diz.

O especialista narra que a figura do guarda da esquina é tão forte que virou algo corriqueiro no país. "Entrou tanto na nossa gíria que ninguém precisa mais explicar. A gente já sabe do que se trata", afirma. BN
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