Após acusar polícias de agredí-lo por protestar contra o presidente da República, Jair Bolsonaro, em Itaquera, o torcedor corintiano Rogério Lemes registrou denúncia na Ouvidoria da Polícia do Estado nesta quarta-feira (7). Ele afirmou que, antes de ser conduzido pelos policiais ao Juizado Especial Criminal (Jecrim), foi agredido em uma das salas da Arena Corinthians.
A Folha de S.Paulo teve acesso ao termo de declaração, assinado por Lemes e o seu advogado Roberto Tardelli, e entregue para Ouvidoria.
Lemes afirma, segundo o documento, que ao gritar pela quinta vez contra Bolsonaro, um policial o interpelou e perguntou "o que você está falando aí?". "No mesmo momento, um outro policial militar o agarrou por trás, aplicando um mata leão, o que o fez cair, já quase desfalecendo, quando foi algemado de forma que machucou seus pulsos", segue o texto.
Em uma sala (antes de ir para o Jecrim), Lemes, portador de uma prótese por causa de problemas no fêmur, relata ter sido derrubado. Segundo ele, o ironizavam. "Você não é o valentão? Você não gosta de ofender o presidente?", disseram, de acordo com o torcedor.
O corintiano afirmou que permaneceu durante o primeiro tempo no que define como "salinha do terror".
"É um escândalo de nível mundial. Nunca imaginaria que houvesse uma dependência, certamente de conhecimento de todos, cuja finalidade remonta aos piores anos da ditadura militar. Estou indignado", diz.
Questionada sobre a denúncia, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP) disse, em nota, que "o Comando de Policiamento de Choque (CPChoque) instaurou inquérito policial militar para apurar todas as circunstâncias relacionadas a ocorrência". O procedimento é padrão.
Em nota emitida na terça (6), o Corinthians repudiou a detenção de Rogério Lemos. "O clube historicamente reitera seu compromisso com a democracia e a defesa do direito constitucional de livre manifestação, desde que observados os princípios da civilidade e da não violência", diz o clube.
A Ouvidoria enviou a denúncia à Corregedoria da Polícia Militar, e cabe a ela evocar ou não o pedido para assumir a investigação do caso, por agressão e abuso de autoridade. A decisão deve ser tomada nos próximos dias pelo chefe do órgão, o coronel Marcelino Fernandes, que está retornando de férias.
"A Ouvidoria também irá encaminhar o termo do Rogério à Corregedoria da Polícia Civil para que o órgão investigue a conduta da delegada [Monia Olga Pescarmona] na ocorrência", informou Benedito Mariano, ouvidor da PM.
É função da Corregedoria investigar de agentes da PM. Os órgãos das polícias civil e militar podem apurar a conduta, respectivamente, dos policiais do Batalhão do Choque (responsável pela segurança nos estádios), e da delegada Monia Olga Pescarmona, da Delegacia de Polícia de Repressão e Análise aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade).
No termo de declaração, o torcedor relatou ter sido agredido pelos policias do Choque, responsáveis pela segurança. No boletim de ocorrência, assinado pela delegada Monia Pescarmona, não há relatos de agressão.
O advogado da suposta vítima diz que a delegada deveria ter solicitado exame de corpo de delito. "Isso não apenas configura grave falta funcional, mas também pode configurar prevaricação", afirmou.
Rogério Lemes foi retirado das cadeiras de Itaquera durante a execução do hino nacional, enquanto xingava e protestava contra o presidente Jair Bolsonaro. Ele foi levado ao Juizado Especial Criminal (Jecrim), localizado no próprio estádio, onde foi registrado boletim de ocorrência (BO) assinado pela delegada Monia Olga Neubern Pescarmona.
Em resposta na última segunda-feira (5), quando o caso da condução do torcedor foi noticiado, a SSP afirmou que "não houve prisão, mas a condução dele ao posto do Juizado Especial Criminal (Jecrim), onde foi registrado boletim de ocorrência não criminal e depois liberado para voltar a assistir à partida de futebol".
O órgão também afirma que o torcedor não mencionou ter sido agredido aos oficiais e que os policiais agiram para "preservar a integridade física do torcedor" e evitar um potencial tumulto. BN
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