Os comerciantes do Vale do Capão, na Chapada Diamantina, estão se organizando para abolir o uso de garrafas long neck, substituindo-as majoritariamente por latas e garrafas retornáveis. O grupo articula ainda, junto à gestão municipal, a criação de uma lei que proíba a venda de produtos descartáveis que não sejam recicláveis.
O Capão atrai, durante todo o ano, muitos turistas em busca da tranquilidade, da aventura e das belezas naturais proporcionadas pelo local. Entretanto, nos últimos anos, o distrito do município de Palmeiras, no coração do sertão baiano, tem enfrentado os desafios que surgem junto com a intensa circulação de pessoas. Um desses problemas é o acúmulo de lixo.
O lixo é um problema recente na região. Segundo o chef Ton, dono de um restaurante no distrito, antes do “boom” de turismo na Chapada, o Capão praticamente não produzia lixo em grande quantidade. “Quando você pergunta a um nativo como ele fazia para cuidar de lixo, ele fala que não precisava, porque aqui não tinha sequer saco plástico. Antes, não tinha lixo, não existia long neck. O povo aqui nem bebia”, contou o chef, que mora em Palmeiras há quatro anos.
“O que mais gera lixo no Capão são os descartáveis. Só para ter uma ideia, só o Vale do Capão produz mais lixo que todo o restante do município. Precisamos resolver esse problema coletivamente e o nosso primeiro passo é a não-venda de produtos descartáveis que não possibilitem a reciclagem”, disse Emanuel Requião, o Manu, presidente da Associação Comercial do Vale do Capão.
Preocupados com o acúmulo de lixo nas vias do distrito, os comerciantes identificaram que as garrafas do tipo long neck se destacavam nos descartes e decidiram pela abolição da venda desses descartáveis no Vale do Capão. Segundo o presidente da Associação Comercial, todos os comércios locais se comprometeram a não vender mais essas garrafas.
“A nossa meta é diminuição de 100% em long necks. Já temos o compromisso com adesão de todos os comerciantes. Estamos fazendo um trabalho voluntário, mas já falamos com o prefeito e a ideia é que a Câmara faça uma lei que proíba a venda de long necks aqui”, contou Manu.
“Nós tivemos uma aceitação de 100% de todo o comércio, inclusive das pousadas. Os mercados também aceitaram diminuir gradativamente a venda de long necks. Nós temos problemas com lixo e vamos diminuir até que a gente consiga tornar o Capão de novo totalmente sustentável”, declarou Ton.
O Bahia Notícias entrou em contato com o secretário de Turismo e Meio-Ambiente de Palmeiras, Janivaldo Vieira do Santos, que confirmou o interesse da prefeitura em encampar o projeto de lei. Segundo ele, o texto ainda está em construção e será enviado para a Câmara. “É uma iniciativa da comunidade, que está preocupada com o descarte desses materiais, e estamos encampando essa ideia”, explicou.
Os comerciantes locais, porém, não planejam parar por aí. O próximo passo, segundo o chef Ton, é propor o fim da utilização do saco plástico. "A gente não está pensando só no Capão. O pensamento, nas nossas reuniões, é o planeta como um todo. Começando com a long neck, a gente consegue gradativamente avançar na sustentabilidade, tornar um lugar mais saudável", disse. "Se a gente conseguir mostrar para todo o estado e para o mundo que é possível, então é isso que a gente quer", finalizou.
"GUERRA" AO PLÁSTICO
Algumas cidades brasileiras já colocaram em prática projetos para eliminar ou reduzir a utilização de canudos de plástico, substituindo-os por versões de papel ou plástico biodegradável. Até o momento, oito estados e o Distrito Federal adotaram medidas deste tipo.
A lista inclui Acre, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e São Paulo. E, dos 18 estados brasileitros restantes, em 17 existe ao menos um projeto de lei no Legislativo estadual para proibir os canudos plásticos, conforme levantamento da Folha de S. Paulo.
A nível municipal, cerca de 80 cidades possuem projetos nesse sentido, conforme estudo da organização WWF Brasil.
Fonte: Bahia Noticias
Tags
Brasil