O antiviral experimental remdesivir, primeiro tratamento promissor na luta contra o novo coronavírus, da farmacêutica americana Gilead Sciences, será atualizado e passará por uma nova bateria de testes. Em vez da versão intravenosa, dada atualmente aos pacientes, o novo remdesivir será absorvido pelo corpo humano por meio da inalação, o que pode acelerar o uso em pacientes da covid-19 que não estão internados em hospitais.
Em uma carta aberta publicada nesta segunda-feira (22), o presidente da Gilead, Daniel O’Day, afirmou que a versão inalável do antiviral “permite uma administração mais fácil fora do hospital, em estados menos avançados da doença” e pode ser feita pela utilização de um nebulizador. “Como parte da nossa próxima onda de desenvolvimento clínico, nós vamos estudar a medicação no tratamento da doença logo no começo, combinando-o com outras terapias”, explicou O’Day.
Em estudos preliminares, o medicamento intravenoso acelerou a recuperação de pacientes e reduziu o tempo de internação de pacientes graves. O antiviral age reduzindo a capacidade de replicação do vírus no organismo humano. Um estudo feito pela própria Gilead Sciences apontou que os pacientes reagiram melhor ao medicamento quando o receberam cedo no quadro de infecção pelo novo coronavírus. Segundo a companhia, 62% dos pacientes que receberam o Remdesivir cedo tiveram alta do hospital. Entre os que receberam o remédio com a covid-19 em estágio mais avançado, 49% tiveram alta. O estudo avaliou a eficácia do Remdesivir quando foi dado a pacientes com quadros graves de covid-19 por cinco dias e por dez dias. O teste envolveu cerca de 400 pessoas.
No dia primeiro de maio, o Food and Drug Administration (FDA), espécie de Anvisa americana, publicou uma autorização de emergência para autorizar o uso do Remdesivir contra o SARS-CoV-2, o que aumentou a escala de pacientes tratados com o antiviral.
A ideia agora é focar em fases iniciais da doença para “reduzir a onda da pandemia” e também em combinações capazes de parar o vírus em seus mais variados estágios.
As pesquisas sobre a nova versão serão realizadas nos próximos meses, segundo o comunicado da empresa. “Baseado em nosso conhecimento, o vírus no começo é o primeiro condutor da doença. Nos outros estágios, a resposta inflamatória do corpo pode causar alguns dos maiores aspectos ameaçadores. É importante, então, termos ferramentas que possam trabalhar juntas para lutar contra os dois aspectos da doença: um antiviral para mirar no vírus e outra terapia que foque na resposta inflamatória”, disse O’Day. “Nós estamos propensos a explorar como o Remdesivir funciona quando combinado com anti-inflamatórios, principalmente com pacientes mais graves.”
A Gilead é uma biofarmacêutica avaliada em 96 bilhões de dólares. Fundada em 1987 pelo médico Michael L. Riordan, a empresa é uma das maiores fabricantes de medicamentos dos Estados Unidos e faz parte do índice S&P 500, que reúne as companhias mais importantes da bolsa americana. No Brasil, a farmacêutica tem escritórios em São Paulo e em Brasília. Só neste ano, com o otimismo dos investidores pelos testes bem-sucedidos do Remdesivir, as ações da Gilead subiram 26%.
Na semana passada, um estudo britânico mostrou que a dexametasona, um anti-inflamatório corticosteroide que também é utilizado em crises de asma e também por alpinistas no combate aos efeitos da falta de oxigênio em altas altitudes, reduziu em até um terço o risco de morte dos pacientes entubados usando respiradores mecânicos; e em um quinto para pessoas que estavam recebendo oxigênio suplementar por causa do coronavírus. Segundo O’Day, a descoberta corrobora com os estudos sobre tratamentos complementares contra o vírus.
Outro tratamento anti-inflamatório, chamado de EDP1815, foi testado em pacientes com psoríase (doença na qual células de pele se acumulam e causam coceira e irritação) e apresentou resultados que podem ajudar pessoas também em estados iniciais do novo coronavírus.
Quase 9 milhões de pessoas estão infectadas pelo vírus no mundo e 468.724 morreram, segundo o monitoramento em tempo real da universidade americana Johns Hopkins. Os Estados Unidos são o epicentro da doença, com 2.280.969 doentes e mais de 119 mortes. Em segundo lugar no ranking está o Brasil, com 1.083.341 de infectados e 50.591 óbitos.
Nenhum medicamento ou vacina para a covid-19 foi aprovado até o momento para uso regular, de modo que todos os tratamentos são considerados experimentais.
Segundo o relatório A Corrida pela Vida, produzido pela EXAME Research, unidade de análises de investimentos e pesquisas da EXAME, as pesquisas para o desenvolvimento de uma vacina já contam com o financiamento de pelo menos 20 bilhões de dólares no mundo. Desse valor, 10 bilhões foram liberados por um programa do Congresso dos Estados Unidos. Mais de 136 vacinas estão sendo desenvolvidas atualmente.
Fonte: Exame
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