Hospital Espanhol oferece musicoterapia a pacientes com covid-19


Orar, caminhar de forma lenta até uma varandar, cantar e dançar. Ações aparentemente corriqueiras se tornaram um verdadeiro privilégio durante o isolamento social. Mais do que isso, são estratégias para lidar com a solidão e o enclausuramento impostos pela pandemia.

No entanto, tem gente que fica impedida por um tempo até de conseguir fazer essas ações mínimas. Gente como dona Maria da Conceição, 58 anos, paciente internada com a Covid-19 no Hospital Espanhol - centro de referência no tratamento da pandemia em Salvador. Quando ela conseguiu fazer tudo isso, ainda que nos corredores do hospital, foi uma grande vitória: "Senti a presença de Deus aqui. Me curou! Estou muito alegre, muito feliz da vida".

Dona Maria precisa ficar isolada de sua família, assim como todos os pacientes do hospital. Pensando na saúde mental de todo o mundo que está internado, o Espanhol está oferecendo sessões de musicoterapia ao ar livre para os pacientes. Elas acontecem nas varandas dos andares, com direito a vista para a a Baía de Todos os Santos.

O responsável por tocar o projeto é o musicoterapeuta Marcos Barbosa e atua no hospital desde o último mês de maio e avalia como positivos esses quase 60 dias da iniciativa.

“O ambiente do quarto, num isolamento, é monótono e triste. Nas varandas daqui, a gente desfruta da oferta natural de uma vista maravilhosa! Os pacientes ficam deslumbrados. Proporcionar um ambiente agradável, melhora bastante o humor de quem está doente”, diz. 

Os pacientes em condições físicas de andarem pequenos trechos são acompanhados pela equipe de psicologia, durante o passeio à varanda. Muitos deles, se soltam, dançam e se descontraem. Para a psicóloga Jaqueline Amorim da equipe do Hospital Espanhol, que também acompanha a atividade, a vivência musical na varanda funciona como a promoção da empatia, que é sentir pelo outro e se sentir como o outro, sabendo abraçar a alma.

"Durante a hospitalização os pacientes se veem em um mal estar psicológico muito grande, deixando que eles fiquem fragilizados, com a capacidade de adaptação e reação ao estresse do confinamento bem elevados, produzindo respostas fisiológicas e emocionais que podem impactar no sistema imunológico e na condição do equilíbrio mental para o enfrentamento. Esta vivência traz para o paciente a sensação de bem estar", explica a especialista.

Coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital Espanhol, Cristiane Dactes explica que a atividade vai além da terapêutica psicológica, porque contribui para ampliar a assistência restritiva ao leito e, em alguns casos, para o desmame do uso do oxigênio hospitalar.


Muitos pacientes já estão curados e fisicamente prontos para a alta. Mas o medo de voltar a sentir a falta de ar que enfrentou, a dificuldade para respirar, ainda permanece.

"A insegurança impede que deixem de receber o oxigênio, com tranquilidade, mesmo quando o gás não lhes é mais necessário. Estes passeios e permanência temporária na varanda, observando o horizonte, mostra-lhes que o mundo lá fora os aguarda e que eles já podem retomar suas vidas, de casa", relata.

Além do apoio para os pacientes, a coordenadora diz que também há uma preocupação em atender os familiares e fazer com que todo o conjunto compreenda que a doença é uma fase, mas que o indivíduo em si não é doente. Essa é uma maneira de motivá-lo a enfrentar o momento de dificuldade e seguir firme para os momentos que virão após a internação.

Além da musicoterapia, o setor de psicologia também oferece interconsultas, um grupo de desospitalização, o grupo da arte terapia, grupo das visitas virtuais, o pós-luto para a família que sofrer com essa situação.

"Nós quebramos essa relação dele do isolamento, damos uma condição de pensar fora daquele conteúdo que ele consegue enxergar naquele momento, lembrando que após aquilo ali o processo dele é de vida", diz a coordenadora.

Fonte: Correio


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