O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou ao jornal O Globo que acredita que a pior projeção feita anteriormente sobre a pandemia vai se concretizar: o Brasil atingindo 180 mil mortes pela Covid-19.
Atualmente, o país contabiliza 139 mil óbitos. A perspectiva mais otimista tratava de 30 mil. A esperada era 80 mil. As duas já foram ultrapassadas há tempos, e a espera pela vacina continua.
Mandetta está lançando o livro "Um paciente chamado Brasil", no qual conta os bastidores do Ministério da Saúde no combate à pandemia e o processo de fritura que sofreu do presidente Jair Bolsonaro e da ala mais conservadora do governo federal, após bater de frente com o chefe do executivo sobre a importância do distanciamento social e se negar a liberar a cloroquina como tratamento eficaz para o novo coronavírus.
"Estamos enfrentando a pandemia sem liderança. Não tem uma voz que dê os critérios técnicos. Como não temos guidelines, há personagens: um manda abrir, outro manda fechar...", comentou, em entrevista ao jornal O Globo.
O ex-ministro aproveitou para falar sobre o atual momento da pandemia no Brasil. Na visão dele, a volta das atividades normais tem prejudicado o combate à Covid-19. "Aglomerou? Duas semanas depois você tem aumento de casos. Foi assim no feriadão de São Paulo duas semanas atrás. São Paulo já aumentou o número de casos. Todo mundo desceu para a praia, (houve um) aumento de 40% no fluxo de pessoas para o litoral. Aglomerou? Colhe o preço", criticou.
Em relação à reabertura das escolas, Mandetta acredita que não é possível esperar uma vacina para iniciar esse processo. "É sempre fácil você fechar. Difícil é ter os critérios para reabrir. Mas você manter as crianças fora da sala de aula aguardando por uma vacina é outro erro. A vacina é uma possibilidade, não é uma realidade. Ela pode acontecer durante o ano de 2021, mas também pode falhar", afirma.
No livro que lançou, o ex-ministro revela mais detalhes sobre a história de que estaria sendo monitorado por agentes de inteligência do presidente.
"Eu estava com minha esposa no apartamento domingo e tinha saído para uma caminhada ali do lado, comprar chá e pão doce na padaria, a duas quadras de onde eu morava. Depois, na quinta-feira, achei estranho quando o presidente veio me dizer 'hoje eu vou comer sonho na padaria'. E ele foi lá naquela padaria, que é diametralmente longe do Palácio do Planalto, comeu no balcão, criou aglomeração. Eu pensei, será que que ele veio até aqui para depois eu reclamar em público que ele aglomerou gente mais uma vez? Aí ele poderia dizer 'mas você também veio aqui, conforme esta foto'. Eu me questionei: será que eles estão me monitorando, sabendo onde vou, onde deixo de ir?", ponderou, mas disse não ter confirmação ou desconfirmação sobre a questão.
Por fim, durante a entrevista, Mandetta ainda comentou que ainda não tem um projeto político para 2022 em mente, mas garantiu que não disputará para ser eleito deputado federal. Atualmente, ele está retomando consultas na função de ortopedista pediátrico. Ele trabalha com foco na recuperação de movimento de crianças.
Fonte: Bahia Notícias