1ª Delegacia Territorial / Foto: Varela Notícias
Unidades sem ventilação adequada, fiação elétrica exposta, banheiros sem manutenção, linhas telefônicas que não funcionam, impossibilitando ligações emergenciais e atendimento a denúncias da população são algumas das precariedades vistas e relatadas.
Por conta desses problemas, denunciados ao Varela Notícias, o Sindicato dos Policiais Civis do Estado da Bahia (Sindpoc) pede melhorias para as unidades.
A equipe do VN visitou a 1ª Delegacia, que fica nos Barris, já que é considerada a maior unidade de Salvador; a 6ª DT, que fica na Ladeira dos Galés, em Brotas, foi visitada por ser uma delegacia com reformas prometidas desde a Copa do Mundo de 2014; e a Delegacia de Atendimento à Mulher (DEAM), que fica no Engenho Velho de Brotas, por ser referência no atendimento às mulheres.
Além das delegacias citadas, no último sábado (14), a 4ª Delegacia, que fica localizada no bairro de São Caetano, sofreu um ataque, onde um vândalo destruiu a porta de vidro da unidade, que precisou ser substituída por uma antiga e frágil porta de madeira. Até a quarta-feira (25) da semana passada, quando o Sindpoc foi à unidade para verificar os problemas enfrentados pelos policiais, a entrada ainda não havia sido reformada.
Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM/Brotas)
A DEAM mostrou ser a delegacia mais bem estruturada entre as três visitadas pela reportagem. O VN entrevistou investigadores que trabalham na unidade e a única reclamação relatada foi o baixo efetivo.
Apesar de não haver problemas estruturais, a pouca quantidade de policiais na Delegacia da Mulher causa graves consequências, não apenas aos agentes, mas também às mulheres.
“Baixo efetivo nas undiades policiais prejudica em tudo, porque precisamos dar um atendimento de qualidade, principalmente no que tange uma DEAM. Você está com dois policiais em uma unidade, 24 horas para fornecer o atendimento a um grande número de pessoas, já compromete a qualidade do atendimento”, comentou a vice-presidente do Sindpoc, Ana Carla.
“Por conseguinte, adoece aquele servidor que está lá por 24 horas sem as mínimas condições porque eles precisam comer, descansar, e possivelmente eles não conseguem fazer isso por conta da demanda ser muito grande, e como você vai prestar um atendimento de qualidade com baixo número de efetivos? Ao mesmo tempo, o que tange na parte administrativa, você tem uma gama imensa de intimições e prisões para realizar e você só tem três ou quatro policiais praticamente pra uma cidade inteira. É preciso investimento, material humano, armamento, viaturas”, concluiu.
1ª Delegacia Territorial
Apesar da assessoria de imprensa da Polícia Civil alegar, por meio de nota ao VN, que já foi iniciada uma reforma no local, na primeira delegacia, a situação precária é vista desde a área externa, com vidros quebrados e um matagal que cobre a unidade policial. O ambiente extremamente quente e a falta de água gelada são apenas detalhes de um conjunto de problemas que causam dor de cabeça para quem trabalha no local.
“Não tem água, nós trabalhamos em local insalubre, não temos um alojamento decente, a sala de recepção não tem ar-condicionado, um ventilador, não tem nada. O policial trabalha aqui, nessa quentura, o mato cercando a delegacia, somos vítimas de muriçocas que invadem a delegacia. Eu já peguei Chikungunya aqui na delegacia, fiquei afastado quase um mês por causa disso”, contou um dos policiais que trabalham na unidade. Segundo ele, outros civis que atuam na 1ª DT também já ficaram adoentados no local.
Com a falta de ar-condicionado ou um ventilador, a delegacia se torna bastante quente. Em dias de chuva, a situação fica ainda pior, já que é necessário fechar as janelas, pois poças de água se formam pela unidade, por conta da chuva que cai pelo teto da estrutura precária.
Além disso, poucos computadores funcionam na delegacia, o que afeta o atendimento de ocorrências. De acordo com um dos policiais, a unidade possui quatro máquinas, mas, quando têm sorte, é possível utilizar apenas duas.
A comunicação entre os investigadores também é prejudicada com o mau funcionamento de rádios, comunicadores e telefones. “Cansou de hospital ligar para a gente e não conseguiu, já aconteceu de ficarmos meses com rádio e telefone sem funcionar. Eles querem que utilizemos nossos telefones e eu não aceito isso”, disse um dos policiais que trabalham na 1ª DT.
Problemas externos que comprometem as investigações dos policiais também foram registrados. Segundo um dos civis da 1ª Delegacia, as viaturas são “super controladas” e não há combustível suficiente para conduzir determinadas situações.
“A gente não sabe até quando vamos suportar essa situação de calamidade, mas acreditamos que o Governo do Estado, lá no futuro, vai abrir os olhos para a instituição da Polícia Civil”, desabafou o policial.
6ª Delegacia Territorial
Na sexta delegacia, os investigadores reclamam sobre uma reforma que devia ter acontecido na unidade antes dos jogos da Copa do Mundo de 2014, pois a delegacia servia de ‘modelo’ para os jogos, já que fica próxima à Arena Fonte Nova.
“A delegacia está totalmente acabada, antes de Salvador receber jogos da Copa do Mundo, chegou a promessa do Governo do Estado de reformar a unidade, veio toda uma equipe de arquiteto, engenheiro. A delegacia seria modelo para o evento, já que fica ao lado da Fonte Nova”, afirmou um policial civil.
De acordo com os investigadores, dentro da própia delegacia havia uma cadeia de custódia, onde a mesma foi desativada, já que corre sério risco de desabar.
“A parte do fundo está condenada a desabar há anos, isso era uma cadeia de custódia que foi desativada por conta do risco iminente de demolir. Agora todo o procedimento é feito aqui e depois o preso é levado para a 1ª delegacia”, disse um investigador.
Os investigadores também contaram ao VN que somente a sala do delegado tem uma boa estrutura, enquanto os demais sofrem com o descaso. Além disso, há a falta de EPIs, que não foram disponibilizados para que os servidores possam se proteger da Covid-19.
“Banheiros são precários, fiação totalmente exposta, a internet também não funciona, sendo que é o essencial para que os policiais possam investigar e atender a população. Somente a sala do delegado tem uma estrutura boa, já os investigadores têm condições muito precárias. A pandemia teve início há meses e nós não recebemos nenhum tipo de material para que possamos nos higienizar, já que trabalhamos com pessoas”.
Assim como na 1ª Delegacia, outros fatores também interrompem a investigação dos policiais da 6ª DT. De acordo com um dos investigadores da unidade, alguns sites são bloqueados, impedindo que informações cruciais sejam coletadas.
“Amo o que faço, levanto de manhã para fazer o que faço com amor, porém a gente fica revoltado por não poder dar algo a mais para a nossa sociedade porque quem está na administração da Polícia Civil e na Secretaria de Segurança Pública não se importa com a sociedade, quem dirás com a Polícia”, desabafou um investigador.
“Eu optei ser policial porque eu gosto, mas esses problemas acabam tirando esse meu sentimento de amor. Isso tudo desgasta o policial. Não tem nenhum atrativo para você ser policial no Brasil. Ser policial no Brasil já é uma coisa ruim, e ser policial no Nordeste é uma desgraça maior”, concluiu.
O Varela Notícias entrou em contato com a Polícia Civil para questionar sobre a falta de investimentos nas delegacias. Em nota, a assessoria respondeu que a 1ª e a 6ª Delegacias já estão na lista de unidades a serem reformadas, mas não comentou sobre o baixo efetivo de servidores na DEAM.
Fonte: Varela Notícias
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