O policial militar que ameaçou um colega com uma arma no centro de São Paulo, no início deste mês de dezembro, relatou problemas psicológicos e afirma que surtou após levar bronca por atrasar ao retornar do almoço, segundo depoimento dado em interrogatório, depois de ter sido preso. De acordo com a Folha de São Paulo, o soldado Felipe Nascimento, 34, também disse ter se arrependido de seu comportamento logo após sacar a arma, mas que, quando se deu conta do que estava fazendo, já era tarde demais.
“Quando eu estava com a arma apontada para a cabeça dele, passou um filme na minha cabeça. E me arrependi, pensei na minha família, no meu emprego, mas já era tarde. [Arrependo] de tudo, de perder a paciência com uma coisa simples”, diz trecho de depoimento obtido pela Folha.
Na versão apresentada aos superiores, Nascimento afirmou que vinha sendo acompanhado por uma unidade Naps (Núcleo de Atenção Psicossocial) desde que pedira ajuda ao comandante da companhia. O oficial, segundo ele, tinha conhecimento de seu quadro.
“Solicitei tal acompanhamento devido a problemas familiares e financeiros e, juntamente com meu CGP [comandante de patrulha] solicitei apoio para uma ajuda com um psicólogo na Polícia Militar”, disse ele.
Sobre o fato em si, o policial disse que se atrasou para render o colega, o cabo Márcio Simão de Oliveira Matias, porque, enquanto caminhava em direção ao local, foi chamado por populares para atender uma pessoa que passava mal. Por isso, teria se atraso por 25 minutos. Nascimento conta que, ao chegar, começou a levar uma bronca do colega, um superior hierárquico. “O cabo Simão me chamou de lado da via e falou: 'É justo você passar 25 minutos do horário combinado e eu ter que fazer a refeição em 30 minutos?”, disse.
O PM diz ter dado a explicação para o atraso, mas isso não teria sido suficiente para demover o cabo da intenção de comunicar a falta aos superiores para que Nascimento recebesse uma punição. Nascimento afirmou que tentou argumentar que isso não seria necessário e, diante da intrasigência do colega, acabou surtando.
Nascimento foi denunciado pela Promotoria pelos crimes de ameaça e desrespeito ao superior diante de outro militar. A denúncia foi aceita no último dia 14 pelo juiz Ronaldo João Roth, da 1ª Auditoria Militar, que deve agendar as oitivas dos envolvidos em 2021. Para juízes do TJM (Tribunal de Justiça Militar) de São Paulo, as ações praticadas por Nascimento são grave e dificilmente ele ficará sem punição. O policial também pode ser expulso da corporação em processo administrativo, ainda que seja absolvido pelo TJM.
Fonte: Aratu On