O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sempre defendeu o uso da cloroquina contra covidImagem: Arte/UOL
Há um ano, se luta contra a pandemia gerada pelo novo coronavírus e contra as notícias falsas derivadas de curas milagrosas com o kit anticovid de hidroxicloroquina. Incentivada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e levada praticamente como crença por grupos na internet, a droga nunca teve sua eficácia comprovada por nenhum órgão internacional respeitado.
Mais do que isso, na verdade. Organizações como a OMS (Organização Mundial da Saúde) e o FDA, agência reguladora para alimentos e medicamentos norte-americana, desestimulam o uso da droga contra covid, mesmo na forma de "tratamento precoce" —algo que tem ganhado notoriedade no Brasil nos últimos meses, mas também não funciona.
Não sabe o que responder a um familiar ou amigo no WhatsApp que insiste em promover a droga? Veja cinco evidências de que o tratamento precoce com cloroquina não funciona:
Eficácia da droga nunca foi comprovada.
Qualquer apoio à droga carece de um elemento fundamental quando se trata de medicina: a ciência. Não há nenhum estudo de órgão reconhecido que tenha comprovado a eficácia do tratamento em qualquer estágio da doença.
Em novembro, um estudo britânico atestou que o uso de hidroxicloroquina e azitromicina não teve benefício em nenhum dos 4.500 pacientes internados. O mesmo foi relatado em outro estudo com 500 pacientes brasileiros internados em estágio moderado da doença.
A Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), braço da OMS no continente, também reforça que não há estudo que comprove eficácia e pede que a droga seja usada "apenas no contexto de estudos devidamente registrados, aprovados e eticamente aceitáveis".
Pode causar efeitos adversos.
O uso indiscriminado da droga ainda pode ser nocivo. Um grupo brasileiro, nomeado "Coalizão Covid-19 Brasil", acompanhou, no meio de 2020, o tratamento de 667 casos leves ou moderados em 55 hospitais no país com cloroquina, associada ou não à azitromicina.
Segundo a pesquisa, o medicamento não promoveu melhoria na evolução dos pacientes e resultou em dois efeitos adversos que pioraram o tratamento de parte dos pacientes: alterações em exames de eletrocardiograma e alteração de exames que podem representar lesão hepática.
Em fevereiro, outro estudo da UFPR (Universidade Federal do Paraná) identificou que o uso da cloroquina pode ter "efeitos tóxicos" nas células vasculares.
Não evitou mortes
Mas e aquela corrente que você recebeu no WhatsApp dizendo que cidades que adotaram não tiveram mortes? Também são falsas. Não há o registro de nenhuma cidade no país que tenha zerado o número de mortes após a adoção do "kit covid".
No ano passado, circulou por meses que a cidade de Porto Feliz, no interior de São Paulo, teria evitado mortes graças ao kit com cloroquina, adotado pela prefeitura em abril.
Até a última segunda (22), o município registrava 47 mortes pela doença. Com pouco mais de 4.000 casos, tem índice de mortes de 1,16%, inferior ao do estado (2,8%), mas, comparada com a população, não se diferencia das localidades vizinhas.
Segundo o governo paulista, foram 7,7 mortes por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias. Isso é inferior a Sorocaba (19,1 mortes por 100 mil) e Itu (14,1), maiores cidades da região, próximo a Tatuí (9,2) e superior a Capivari (3,7), Boituva (3,5) e Tietê (4,9). Além de Sorocaba, que anunciou um kit anticovid na semana passada, que não contém cloroquina, nenhuma delas usou o tratamento precoce em massa.
Uberlândia (MG) foi outra cidade que distribuiu cloroquina. Os resultados foram catastróficos.
Foi dispensada por quem já a aceitou
Por fim, até países que acreditaram nela no início da pandemia já voltaram atrás após a realização dos estudos. Sob o ex-presidente Donald Trump, os Estados Unidos foram o primeiro país a apostar na droga. Foram necessários poucos meses para mudarem de ideia.
Em junho, o FDA revogou o uso do medicamento contra covid-19, depois de o país já ter dispensado 2 milhões de doses para o Brasil.
Fonte: Uol
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