O cirurgião geral Bruno Varjão informa como, onde e quando buscar o serviço de cirurgia bariátrica / Divulgação/Sesab Beatriz Araújo |
Causadora de danos físicos e diversos problemas de saúde, como diabetes e hipertensão, a obesidade é uma doença crônica que afeta milhares de brasileiros e pode levar, ainda, a distúrbios emocionais e psicológicos, associados a problemas de autoestima e ansiedade. Uma das alternativas para combater a doença é a cirurgia bariátrica, que em Salvador, pode ser realizada, também, pela rede pública de saúde, através do Sistema Único de Saúde (SUS).
Em entrevista ao BNews, o cirurgião geral Bruno Varjão, que integra a equipe de profissionais que realizam cirurgia bariátrica pelo SUS na capital baiana, informou como, onde e quando recorrer ao serviço, que de acordo com ele, é uma importância pública.
“É uma área de tratamento médico, de assistência, que tem uma grande demanda no SUS”, iniciou. “Hoje, a gente sabe que as doenças crônicas são o que mais dão custo em saúde. Não só em saúde pública, como em saúde privada. Além disso, quando a gente fala em obesidade, hipertensão, diabetes, a gente fala das principais causas de óbito em adultos”, continuou.
O cirurgião conta ainda que, no Brasil, nas últimas décadas, houve uma mudança de direcionamento de verbas de saúde para doenças crônicas, fato que, segundo ele, possibilitou a realização da cirurgia bariátrica pela rede pública. “A bariátrica surgiu de um custo maior no tratamento dessas doenças crônicas e devido à importância do tratamento da obesidade”, explicou.
Hospitais que realizam bariátrica pelo SUS em Salvador
Segundo Varjão, o Hospital Universitário Professor Edgard Santos, também conhecido como Hospital das Clínicas, localizado na R. Dr. Augusto Viana, no bairro do Canela, é uma das unidades de saúde da capital baiana que atende pacientes que buscam a bariátrica.
“É, na prática, um dos hospitais, ou o único hospital, do ponto de vista federal, para operar cirurgia bariátrica pelo SUS. Aqui, falando especificamente de Salvador/Bahia, a gente consegue fazer cirurgia bariátrica hoje no Hospital das Clínicas, pelo Governo Federal, no Hospital da Bahia, pelo Governo Estadual, e mais recentemente esse projeto desenvolvido pela Secretaria Municipal de Saúde, junto com a Santa Casa, que é essa parceria público-privada”, informou o cirurgião.
Outra opção é o Hospital Municipal de Salvador, administrado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), localizado na Rua Vereador Zezéu Ribeiro, no bairro de Cajazeiras.
“No Hospital Municipal há uma equipe multidisciplinar. A gente tem quatro cirurgiões envolvidos, nutricionista, psicólogo, endocrinologistas. É uma equipe multidisciplinar, que é o que está previsto na portaria do Conselho Federal de Medicina, nas resoluções do Ministério da Saúde, que o atendimento à obesidade tem que ser multidisciplinar. Isso envolve também outras áreas como fisioterapia, enfermagem, às vezes psiquiatria, outras especialidades, a depender da doença que o paciente apresenta”, detalhou Varjão.
Passo a passo
Quem deseja buscar a cirurgia bariátrica pelo SUS na capital baiana, precisa, primeiramente, de um encaminhamento médico para o serviço. Segundo o cirurgião, umas das formas de conseguir essa guia é indo a um posto de saúde ou a uma prefeitura-bairro.
Após receberem o encaminhamento para realização da cirurgia, os pacientes costumam ser encaminhados para o Centro de Referência Estadual para Assistência ao Diabetes e Endocrinologia (Cedeba), que fica na Av. Antônio Carlos Magalhães.
“No município, normalmente, isso se dá via regulação do Hospital Municipal. Então, o paciente, com essa mesma guia que ele consegue no posto de saúde, nas prefeituras-bairro, ele é encaminhado ou pro Cedeba, e do Cedeba, ele vai pro Hospital Municipal”, conta Varjão.
Também no Cedeba, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), ocorre o encaminhamento para o Hospital da Bahia, que de acordo com a pasta, é o único prestador credenciado para avaliação e posterior agendamento cirúrgico, através do Governo do Estado.
Tempo médio de espera
O médico relata que no Hospital das Clínicas, o tempo de espera para fazer a cirurgia bariátrica costuma ser mais demorado, já que o preparo do paciente tem que ser multidisciplinar. "Para que a gente consiga operá-lo, a gente precisa de avaliações de nutricionista, psicólogo, endocrinologista, e de outras especialidades que forem necessárias, como cardiologia. Então, no Hospital das Clínicas, isso demora mais de um ano. Mas varia, tem pacientes que eu consigo operar em três meses, por exemplo”, afirmou Varjão.
Já no Hospital Municipal, segundo o cirurgião, o paciente não precisa ficar indo várias vezes à unidade de saúde, e com isso, o tempo acaba sendo menor. “No mesmo dia, a gente faz ambulatório, por exemplo, no hospital, segunda e sexta-feira, e ele passa por nutricionista, por psicólogo, por endócrino e pelo cirurgião, tudo no mesmo turno, e isso, fez com que esse tempo encurtasse bastante”, garante.
O tempo médio de espera até a cirurgia depende também da aderência do paciente ao tratamento. “Se o paciente seguir as orientações, as recomendações, aderir o tratamento, perder peso, que é o que é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde, até em três meses, ele consegue operar. Agora, obviamente, tem pacientes que demoram seis meses, nove meses”, relatou o especialista.
Quando recorrer à cirurgia
Bruno Varjão explica que, antes de optar pelo procedimento, o paciente deve passar por um tratamento clínico. “A cirurgia bariátrica faz parte das ferramentas terapêuticas para tratar a obesidade. A obesidade é grave e a base do tratamento, independentemente do grau de obesidade do paciente, é a mudança do estilo de vida. O início do tratamento sempre é clínico, com reeducação alimentar, atividade física e tratamento medicamentoso e farmacológico. Uma vez não tendo sucesso com esse tratamento, e o paciente estando num nível de obesidade, aí existem os critérios das resoluções e portarias do Conselho Federal de Medicina e do Ministério da Saúde”.
“Pacientes com obesidade grau dois, com doenças associadas, paciente com obesidade grau três, independentemente de ter doenças associadas, ele já é elegível. Então, eu posso assegurar que não existe nenhuma especialidade médica cirúrgica mais bem regulamentada do que a cirurgia bariátrica. Não tem espaço para o que um ou outro médico acha, é o que está lá na portaria que é seguido”, emendou o cirurgião.
“A gente usa como base o Índice de Massa Corpórea (IMC), que é o peso pela altura ao quadrado, e as comorbidades, as doenças que estão relacionadas e que elegem o paciente para a cirurgia, também estão lá nas portarias. Nas portarias, nas resoluções, tem dizendo por quais especialidades o paciente tem que passar, quais exames ele deve fazer, quais são os critérios de elegibilidade, está tudo muito bem regulamentado, é uma área de muito interesse na saúde não só pública, como privada”, concluiu.
Número de cirurgias bariátricas realizadas pelo SUS na capital baiana
À reportagem, a assessoria de comunicação de Sesab informou que, como somente o Hospital da Bahia executa o serviço para a gestão estadual, nos últimos 3 anos foram feitas cerca de 124 cirurgias em Salvador. “Na gestão estadual, o contrato prevê a realização de 10 cirurgias por mês, meta que até 2019 vinha sendo cumprida, mas com o período de pandemia, o número de cirurgias no Hospital da Bahia tem ficado em torno de três a quatro por mês”, disse, em nota.
Já na rede pública municipal de saúde, de acordo com a assessoria de comunicação da SMS, mensalmente são realizados cerca de vinte procedimentos pelo programa de cirurgia bariátrica do SUS. “Após a realização da cirurgia, o paciente continua sendo monitorado por uma equipe multidisciplinar composta por cirurgiões, endocrinologistas, nutricionistas e psicólogos”, informou ao BNews.
Relato de paciente
Ao BNews, a fisioterapeuta Alice Santiago, de 28 anos, relatou como foi a sua experiência para a realização da cirurgia bariátrica pelo SUS na capital baiana. “Eu dei entrada no processo em outubro de 2020, no Hospital Municipal de Salvador, e realizei a cirurgia no dia 2 de junho de 2021, depois de cancelarem duas vezes por conta da pandemia”, conta.
“Eu era acompanhada pelo Cedeba desde 2017, a princípio a intenção não era de fato fazer a cirurgia bariátrica, mas com o tempo eu preferi fazer. E de lá, eu fui encaminhada para o Hospital Municipal”, acrescentou Alice.
A fisioterapeuta relatou, ainda, o que a levou a tomar a decisão de recorrer ao procedimento. “Eu sou obesa desde criança, tentei inúmeras vezes perder peso com dieta e atividade física, não conseguia emagrecer de forma alguma e com o tempo, fui só engordando mais. Então eu enxerguei a bariátrica como a solução daquilo, mas hoje sei que não só a bariátrica é suficiente, é importante cuidar da cabeça e também nos reeducar”, alerta.
Alice avalia de forma positiva o atendimento que recebeu durante o processo para realização da cirurgia na rede pública de saúde. “Eu tive ótimos profissionais me acompanhando, desde o Cedeba sempre fui muito bem atendida. E quando fui pro hospital municipal encaminhada pelo Cedeba, também fui bem atendida e bem acolhida por todos”, finalizou.
Fonte: BNews
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