Umas das fake news que marcaram as eleições de 2018, o "Kit Gay" nas escolas voltou a circular em grupos de WhatsApp de grupos religiosos a menos de dois meses das eleições. É o que aponta o Coletivo Bereia, agência de fact-checking voltada ao público evangélico e católico. Na terça-feira, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) também compartilhou um vídeo no Instagram em que mostra uma criança com o livro "Aparelho Sexual e Cia - Um guia inusitado para crianças descoladas", que faria parte do kit gay. O post do parlamentar recebeu a tarja de "informação falsa" pelo Instagram.
— Desde 2019, quando criamos o coletivo, lidamos com esse discurso. Nossa equipe está em grupos de Whatsapp com pessoas da igreja e vimos a circulação aumentar bastante nas últimas semanas. O "Kit Gay" foi muito usado na campanha de 2018 e voltou várias vezes durante todo o governo Bolsonaro — disse Magali Cunha, coordenadora do Coletivo Bereia, ao GLOBO.
No vídeo compartilhado por Eduardo Bolsonaro, com a legenda "método PT", o pai pega o livro de uma criança e diz que foi distribuído na escola dela. "Atenção!!!! Isso não é discurso de ódio ou qualquer outra ilação do momento. São apenas FATOS! Acredito que nossos filhos não mereçam esse tipo de DOUTRINAÇÃO!", postou o parlamentar com as hashtags #PTnuncamais e #ideologiadegeneronão.
O mesmo livro foi usado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), quando era candidato em 2018, em entrevista ao Jornal Nacional, para fazer uma denúncia falsa de que o material era distribuído para crianças em escolas, quando Fernando Haddad (PT), à época candidato à Presidência e seu principal adversário, ocupou o cargo de ministro da educação (2005-2012). Após a entrevista, o Ministério da Educação (MEC) e a Companhia das Letras, editora responsável pelo livro no Brasil, informaram que o exemplar nunca fez parte do material didático de escolas públicas.
Apesar do desmentido, as redes sociais foram inundadas com publicações que associavam Haddad ao "kit gay", voltado para crianças de seis anos. Após a repercussão, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proibiu Bolsonaro de compartilhar qualquer conteúdo que falasse de "kit gay", além de determinar a suspensão de links de sites e redes sociais com a expressão.
O termo "kit gay' foi o nome colocado por deputados de oposição do governo de Dilma Rousseff para chamar a cartilha "Escola sem Homofobia", formulada em 2011 para professores. Tratava-se de material organizado por profissionais da educação que trazia sugestões de atividades a serem feitas em sala de aula que pudessem incentivar os alunos a refletirem sobre o preconceito. O material era dirigido aos professores e não aos alunos. Por conta da pressão, a iniciativa nunca saiu do papel.
Desinformação sobre educação sexual nas escolas começou bem antes da campanha de 2018. A ex-ministra e candidata ao Senado Federal Damares Alves (Republicanos-DF) foi uma das precursoras da fake news sobre a cartilha. Durante cultos religiosos em 2013, ela já apresentava aos fiéis uma série de slides com "denúncias" de erotização infantil promovida pelo Estado, com cartilhas "que estariam ensinando crianças a serem gays". Em 2019, o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub também falou sobre a existência de um "kit gay", durante audiência pública na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados.
Fonte: Extra