Bolsonaro perdeu o primeiro, o segundo, e agora o terceiro turno

Rafaela Felicciano/Metrópoles

É só para quem pode, não é para quem quer. Bolsonaro perdeu o primeiro turno, perdeu o segundo e agora perdeu o terceiro. Não foi escolha dele perder o primeiro e o segundo – a culpa é do povo, que preferiu eleger Lula. Mas foi sua escolha perder o terceiro.

“Acabou”, ele admitiu em conversa com oito ministros do Supremo Tribunal Federal. Bolsonaro os convidara para assistir ao seu pronunciamento no Palácio da Alvorada, o primeiro depois da derrota. Os ministros recusaram o convite. Foram sábios.

Foi a fala oficial mais curta do presidente que estava em silêncio há 45 horas. E Bolsonaro só a fez porque seu isolamento era crescente. No último domingo, ao não cumprimentar Lula pela vitória, Bolsonaro deu a senha para que fosse abandonado, e foi.

Os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados foram os primeiros a largá-lo de mão. Governadores eleitos, mesmo aliados dele, fingiram que nada aconteceu e tocaram suas vidas. Os chefes de partidos políticos já estavam em outra. Bolsonaro indignou-se.

Fora traído, berrou em mais de uma ocasião. Deixou de atender telefonemas. Mandou apagar mais cedo as luzes do Alvorada, e foi lamber suas feridas. Faltou ao trabalho na segunda-feira, mas até aí nada demais: ele não gosta de trabalhar. E, por canais ocultos…

Por eles, direta ou indiretamente, estimulou sua tropa de choque a ir para as ruas, bloquear estradas e tocar fogo em pneus. O país assistiu a cenas impagáveis. Talvez a mais impagável: bolsonaristas amotinados em Porto Alegre celebrando a anulação das eleições.

Os ministros do Supremo não acharam a menor graça no que viram: em menos de duas horas, formou-se, ali, maioria para avalizar a decisão de Alexandre de Moraes que ordenara à polícia o desbloqueio das estradas e a dispersão dos manifestantes.

Em seguida, passaram a pressionar Bolsonaro para que dissesse que respeitaria a Constituição. Ele disse, mas de má vontade. Não reconheceu a derrota, porém. E como não reconheceu, seus devotos sentem-se autorizados a continuar nas ruas.

Anderson Torres, da Justiça, foi o único ministro a aliar-se incondicionalmente a Bolsonaro: faz corpo mole, simula obedecer à decisão do Supremo, mas evita o uso da força para desbloquear as estradas. Esse idiota e mau servidor aposta no quê? No golpe?

Contra o golpe bolsonarista, basta convocar a Gaviões da Fiel e a Galoucura do Atlético Mineiro. As duas torcidas puseram a correr bolsonaristas que promoviam arruaças em São Paulo e na estrada que liga São Paulo a Minas. Futebol é coisa séria. Golpe, não é.

O dia da derrota de Bolsonaro no terceiro turno terminou com um carão à moda da toga. A convite dos ministros, ele foi ao prédio do Supremo reunir-se com eles. Por pouco, não lhe esfregaram na cara um exemplar da Constituição. Presentearam-no com um.

A maior vocação autocrata que o país conheceu desde o fim da ditadura vai embora tarde. E à saída, como os pombos, emporcalha tudo o que deixa para trás. O que não faria se fosse reeleito? Como disse Francisco, o Papa é argentino, mas Deus é brasileiro.

Fonte: Metrópoles

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