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O empresário José Seripieri Filho, que deu carona em seu avião ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em viagem para o Egito, firmou acordo de delação com o Ministério Público em 2020 e confessou o crime eleitoral de caixa dois em um caso envolvendo o senador tucano José Serra (SP).
Seripieri Filho, conhecido como Júnior, ficou preso por três dias em julho de 2020 em decorrência da Operação Paralelo 23, que investigou pagamentos para a campanha de Serra ao Senado em 2014.
Ele se tornou réu acusado de corrupção, lavagem e caixa dois na Justiça Eleitoral de São Paulo. O senador também responde ao processo. A investigação ocorreu no âmbito de um conjunto de inquéritos apelidado de "Lava Jato Eleitoral", por envolver desdobramentos de delações enviados a esse braço do Judiciário.
No fim de 2020, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso homologou acordo de colaboração de Seripieri firmado com a Procuradoria-Geral da República. O compromisso previa o pagamento de R$ 200 milhões pelo empresário como ressarcimento aos cofres públicos.
Os termos do acordo, assim como detalhes dos depoimentos, permanecem sigilosos até hoje.
Seripieri foi fundador da Qualicorp e é dono da operadora QSaúde. Ele não ocupa cargo na administração da Qualicorp desde 2019.
No caso que envolve José Serra, a defesa de Seripieri informou ao juiz responsável em 2020 a respeito da formalização do acordo de colaboração. Disse que iria colaborar, nos termos da lei, "confirmando o delito eleitoral perpetrado".
Segundo contou a defesa, o empresário recebeu pedido de Serra de contribuição eleitoral em 2014, mas o conselho de administração da Qualicorp só aprovou na ocasião doações para candidatos à Presidência.
Seripieri então procurou Elon Gomes de Almeida, seu sócio em negócios imobiliários, para que fizesse os repasses, "que não envolviam qualquer contrapartida" do tucano. O combinado, disse ele, era que o valor fosse devolvido pelo sócio por meio de transação imobiliária. O total foi de R$ 5 milhões em valores não corrigidos.
Só após feitos os repasses à campanha, disse Seripieri, soube que os pagamentos ocorreram por meio de contratos fictícios firmados por outras empresas ligadas ao sócio.
A defesa, porém, afirmou em petição que ele não pode "confessar crimes que não praticou" e reclamou da tipificação de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, incluídas na denúncia.
Disse que não há como falar em corrupção se Serra, na época, nem ocupava cargo público.
Gomes de Almeida já havia se tornado colaborador da Justiça antes de Seripieri.
A ação penal teve pouco movimento nos últimos tempos. No início do ano, o juiz responsável afirmou que aguardaria a chegada de documentos solicitados ao Supremo para reabrir o prazo de resposta à acusação dos réus.
A reportagem procurou o empresário, por meio de sua assessoria, para comentar o assunto, mas não teve resposta.
Serra sempre negou as acusações. Seus advogados afirmaram ao juiz que a denúncia, "além de infundada, foi ofertada em procedimento com tantos vícios processuais que nem sequer permite a apresentação de defesa".
Em 2020, a defesa do tucano foi ao Supremo e questionou a inclusão na investigação de fatos relacionados ao exercício do mandato parlamentar. Como senador, Serra tem direito ao foro especial.
Na eleição deste ano, Seripieri aparece nos registros do Tribunal Superior Eleitoral como um dos 20 maiores doadores privados da campanha no país. Ele fez doações eleitorais que somaram R$ 1,86 milhão. A maior parte foi para o diretório nacional do PT, seguido da própria candidatura de Lula.
Ele é amigo de Lula há mais de dez anos e já havia sido anfitrião de jantar do petista com empresários na pré-campanha, em junho.
Fonte: Yahoo Notícias