Na última semana, cinco jovens iranianas viralizaram no TikTok vídeo dançando o remix de “Calm Down“, hit do cantor nigeriano Rema em parceria com Selena Gomez. A intenção era homenagear o Dia Internacional da Mulher, no dia 8 de março.
As autoridades do Irã começaram uma operação para encontrar o grupo de garotas porque elas não usavam hijab (acessório que cobre os cabelos e é obrigatório às mulheres do país) e estavam com roupas consideradas impróprias no país.
No Twitter, uma conta que dá notícias sobre o bairro Ekbatan, onde foi gravado o vídeo, alertou que os policiais procuravam pelas adolescentes.
“Eles procuraram imagens de câmeras de segurança do Bloco 13 [prédio de apartamentos] para identificar as meninas que estavam apenas dançando e não estavam envolvidas em nenhuma atividade política. A polícia foi vista verificando as imagens e questionando os guardas”, diz o tweet compartilhado.
Após a notícia da “caçada” ao grupo de jovens, iniciou-se uma onda de vídeos com pessoas dançando ao som de “Calm Down” como forma de apoio às iranianas.
Após ficarem 48 horas detidas, as jovens voltaram para casa e compartilharam um novo vídeo no mesmo local, com roupas longas e o véu obrigatório, pedindo desculpas e demonstrando remorso, mas não se sabe em quais circunstâncias o vídeo foi gravado.
A partir de então, mais mulheres passaram a compartilhar seus vídeos e coreografias sem o hijab. O próprio cantor Rema divulgou o vídeo da coreografia com a mensagem: “À todas as maravilhosas mulheres que lutam por um mundo melhor, que são fonte de inspiração, canto por vocês e sonho com vocês”.
Protestos contra repressão
Desde setembro de 2022, após a morte de uma jovem de 22 anos que morreu em custódia policial após ser detida por usar o véu de maneira inapropriada, o bairro Ekbatan tem sido o principal local de manifestações contra o governo.
Com a pressão global, o governo do Irã indicou o “fim da polícia moral“, uma organização que fiscalizava se as vestimentas femininas estavam nos padrões estabelecidos pela sharia, a lei islâmica. Interpretada por muitos como uma resposta “improvisada”, as autoridades lançaram uma nova campanha de fiscalização em janeiro deste ano.
Chamada “Nazer” (“vigilância” em português), a nova organização manda uma mensagem de texto (SMS) às mulheres que estiverem vestindo o hijab de maneira imprópria ou sem ele, pedindo para que a obrigatoriedade seja respeita e a desobediência à lei não se repita, sem punição ou multas.
O próprio ato de dançar em público é considerado ilegal no Irã, além do uso da palavra “dança” ser proibida em todas as plataformas de mídia e publicações no país. Segundo o site Iran International, uma apresentadora da TV estatal do país foi banida após um convidado usar a palavra durante o programa, em 2021.
No final de 2022, professores foram demitidos por participarem da cerimônia de formatura dos alunos, onde houve danças comemorativas. Mais recentemente, dois blogueiros iranianos foram condenados a dez anos de prisão por dançarem nas ruas, acusados de “incentivar a corrupção e prostituição pública”.
Fonte: CNN