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A Polícia Federal está prestes a concluir a derradeira etapa das investigações sobre a facada em Jair Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018. De novo, a conclusão será a de que Adélio Bispo, o autor do atentado, agiu por conta própria.
O resultado dessa nova etapa da apuração não apenas reforçará o que a própria PF já havia concluído antes de o inquérito ser reaberto como também jogará luz sobre um complicado movimento de bastidores ocorrido na reta final do governo Bolsonaro: houve forte pressão política – do Palácio do Planalto, inclusive – para que os investigadores apontassem a existência de uma suposta ligação da tentativa de assassinato com o PCC, o Primeiro Comando da Capital.
Nos bastidores, fontes graduadas da PF dizem que são cristalinas as evidências dessa pressão. Até recentemente, havia uma discussão interna sobre o que fazer com essas evidências.
Chegou a ser considerada, inclusive, a possibilidade de abertura de uma apuração específica para mapear em que medida integrantes de postos de direção da corporação na gestão Bolsonaro agiram para atender aos interesses do Planalto.
Desejo de Bolsonaro
Já durante a corrida presidencial de 2022, o então presidente e candidato à reeleição queria usar o caso para se cacifar eleitoralmente. Ele entendia que se a Polícia Federal fizesse algum movimento no sentido de relacionar a facada ao PCC, teria dividendos políticos e ampliaria suas chances de derrotar Luiz Inácio Lula da Silva nas urnas.
Com o processo eleitoral já em curso, a PF chegou a pedir à Justiça Federal autorização para realizar buscas em endereços ligados a um advogado de Adélio que, se tivessem sido feitas, poderiam atender ao interesse (e às cobranças) de Bolsonaro. Mas o juiz do caso, Bruno Savino, decidiu não autorizá-las justamente em razão da desconfiança de que o pedido escondia uma estratégia que poderia ter fins eleitoreiros. Essas mesmas buscas foram liberadas só depois e cumpridas em março deste ano, com a PF já sob nova direção.
Por duas vezes, as investigações sobre o atentado já haviam sido encerradas pela PF e chegado à conclusão de que o atentado não teve mandantes. A última delas foi em 2020. O caso, porém, foi reaberto já no final de 2021, depois que a o Tribunal Regional Federal da 1ª Região, com sede em Brasília, liberou o acesso ao telefone celular de um dos advogados que se apresentaram para defender Adélio logo após o crime.
Ao menos um desses advogados tinha, de fato, ligação com o PCC. Era justamente isso que Bolsonaro queria que a PF explorasse, com pompa, circunstância e barulho.
O advogado de Adélio e o PCC
Como o plano não deu certo, a conclusão da investigação acabou ficando para a nova direção da corporação, já sob o governo de Lula. Com um detalhe curioso: o delegado que havia tocado as duas fases iniciais do inquérito e concluído que Adélio Bispo agiu sozinho passou a ocupar uma das posições mais poderosas e sensíveis da hierarquia interna. Rodrigo Morais Fernandes virou diretor da DIP, a Diretoria de Inteligência Policial, justamente onde a apuração vinha correndo.
Já neste ano, a investigação passou por uma espécie de “processo de desintoxicação”, para eliminar o que a nova cúpula da PF entendia como “forçação de barra” para conectar o atentado ao PCC.
Feita a análise nos arquivos do celular do tal advogado de Adélio, chegou-se então à conclusão de que ele tinha, sim, clientes ligados à facção, mas que em nenhum momento essa conexão teve relação com a tentativa de assassinato de Jair Bolsonaro em Juiz de Fora, em 6 de setembro de 2018.
É com base nisso que a PF dirá, de novo, que Adélio agiu sozinho, sem cúmplices ou mandantes – e que, a despeito do desejo de Bolsonaro, o atentado não foi arquitetado ou patrocinado pelo PCC.
Fonte: Metrópoles
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