Caso Hyara comoveu o Brasil; cigana foi morta pelo marido com apenas 14 anos/Divulgação |
Ativistas do Movimento Popular de Ciganos do Brasil procuraram o BNews para denunciar que a recém-criada Coordenação de Políticas para Povos Ciganos, vinculada ao Ministério da Igualdade Racial (MIR), está sendo ocupada por pessoas não-ciganas. Para eles, o caso da cigana Hyara Flor, assassinada na Bahia pelo marido aos 14 anos de idade, tem total relação com a ausência de políticas públicas e de representantes ciganas nos ministérios.
Eles alegam que foram criadas diretrizes jurisprudentes de função comissionada para que apenas concursados federais pudessem ocupar os cargos, "desconsiderando que a imensa maioria das pessoas ciganas não conseguem sequer acessar a escola, que dirá concurso público no governo federal".
"Por que os segmentos Indígenas e Quilombolas contam com pessoas do segmento em suas coordenações e diretorias e apenas a de Povos Ciganos abriu esse perigoso precedente para que uma pessoa, que não é cigana, ocupe uma posição destinada aos ciganos/as?", questiona Aluízio de Azevedo, cigano da etnia Calon, professor-doutor em Comunicação e Saúde dos Povos Ciganos (FIOCRUZ-RJ), representante da Associação das Etnias Ciganas do Mato Grosso e do Coletivo Ciganagens.
No final de junho, diversas Associações, Coletivos e Ativistas, se uniram e produziram um ofício enviado ao ministério com questionamentos sobre o caso. De acordo com o manifesto, "apenas duas mulheres ciganas compõem a equipe, que é liderada por uma mulher não cigana, a Sra. Edilma do Nascimento e um homem não-cigano, Rafael Moreira".
Segundo o movimento, apenas nesta terça (12), o MIR comunicou que fará uma reunião de “esclarecimentos” junto ao Movimento, na próxima segunda (12).
De acordo com a cigana da etnia Calon Sara Macedo Kali, mestra em Direito, advogada popular, membro do Movimento Internacional de Mulheres Ciganas, o caso da cigana Hyara Flor é também reflexo da ausência de políticas públicas e de representantes ciganas nos governos do Brasil.
"Precisamos refletir sobre onde estão as raízes das violências envolvendo as comunidades ciganas do Brasil, o que não é possível de ser feito sem a presença das próprias mulheres ciganas nesses espaços de articulação e poder", avalia.
Ciganos Sara Macedo Kali e Roy Rogeres denunciam preconceito com o povo cigano |
O jornalista cigano da etnia Calon e de tradição circense, Roy Rogeres Fernandes, explica que os movimentos ciganos vêm crescendo paulatinamente, mas ainda se esbarram nos preconceitos para ocupar espaços de poder.
"Embora não tenhamos tido a oportunidade de subir a rampa do Planalto Central ao lado do presidente Lula no início deste governo, nos sentimos representados pela diversidade de povos, segmentos e grupos que simbolizaram a promessa em servir à pluralidade étnica que caracteriza a multiplicidade da população brasileira, na busca por equidade e igualdade racial, que só é possível com a participação concreta e não simbólica dos/as ciganos/as no seio gerador dessas políticas e ações mobilizadoras neste sentido", critica.
O BNews procurou a assessoria de imprensa do MIR e aguarda um posicionamento sobre o caso. A matéria será atualizada caso as respostas aos questionamentos sejam enviadas. A pasta é chefiada pela ministra Anielle Franco.
Suspeito de matar Hyara segue desaparecido
O adolescente suspeito de matar Hyara segue desaparecido. A Polícia Civil da Bahia emitiu um mandato de internamento para o jovem. O caso ganhou projeção nacional após o pai da menina oferecer uma recompensa de R$ 300 mil pela captura do rapaz. A roteirista Glória Perez, da TV Globo, também repercutiu o assunto em suas redes sociais, ressaltando que a menina era menor de idade.
Fonte: BNew
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