Na história contemporânea de Jacobina, existem personagens importantes que volta e meia precisam ser lembrados para que não se percam no tempo. É o caso do professor Lourival Martins de Souza. Uma figura cuja vida e contribuições à educação e à política no município não podem cair no esquecimento.
Nascido em 1937, em Morro do Chapéu, Lourival Martins de Souza era o mais velho dos sete irmãos de uma família humilde. Sua infância simples e modesta, vivida na comunidade de “Canabravinha”, não o impediu de sonhar alto, em especial se formar e oferecer ajuda tanto à sua família quanto àqueles que precisassem.
Ele iniciou sua trajetória educacional nas escolas rurais, onde conclui o curso primário. Quando tinha 17 anos, Lourival rumou a Jacobina para fazer o “Curso de Admissão”, requisito essencial para cursar a 6ª série. Foi aprovado e completou a 6ª série no Colégio Estadual Deocleciano Barbosa de Castro, onde concluiu o 2º grau com o curso de Magistério em 1962.
Professor Lourival prosseguiu seus estudos em Salvador, na UFBA, ao ser aprovado no vestibular de Matemática. No entanto, o jovem estudante se deparou com limitações financeiras, o que o levou a depender da ajuda de terceiros para concluir a graduação em 1975.
Antes de fundar o Colégio Euzébio de Queiroz (C.E.Q.), atualmente uma referência na educação de Jacobina, Professor Lourival desempenhou diversas funções, incluindo a de sapateiro e servente no Derba. Além disso, compartilhou seus conhecimentos como professor de datilografia, matemática e vice-diretor do Colégio Deocleciano Barbosa de Castro (CEDBC).
O Colégio Euzébio de Queiroz moldou minha própria jornada no final da década de 1980. Nessa época, com 15 anos de idade, trabalhava como porteiro durante o dia e à noite frequentava o curso de Técnico Agrícola. Também fiz parte da saudosa e premiada Fanfarra do C.E.Q., a primeira fanfarra da cidade.
Ainda me lembro, inclusive, de alguns professores da época: Abécio (Agricultura), Adriano Menezes (Língua Portuguesa), Cavalcanti (Geografia), Aldo Tínel (Química), Hugo Lanza (Matemática), José Emanuel Lemos (Biologia), Jailson Cedraz, o “Amarelinho” (Zootecnia), dentre outros que fizeram a história do Euzébio de Queiroz e fizeram parte do que considero uma “orquestra educacional” regida pelo maestro Lourival Martins.
Apesar de todas essas contribuições, o professor Lourival Martins de Souza parece ter sido vítima de uma espécie de invisibilização histórica, da mesma maneira que ocorreu com Deocleciano Barbosa de Castro, outra figura notável da história de Jacobina e fundador do C.E.D.B.C.
Será que essa invisibilidade tem origem no fato de que ambos eram homens negros? Pode ser que, por um motivo ou outro, a “branquitude histórica” tenha ignorado esses importantes personagens, apagando ou minimizando suas contribuições.
Na esfera política, Professor Lourival atuou como vereador, presidente da Câmara Municipal, secretário de Educação e chefe de Gabinete em Jacobina. Ele recebeu o título de Cidadão Jacobinense em 1985, um reconhecimento de sua notável contribuição à sociedade local. Faleceu em 15 de maio de 2020, aos 83 anos, deixando a viúva dona Maria Oliveira de Souza, com quem foi casado por mais de 60 anos, cinco filhos, além de genros e netos.
Tivemos a oportunidade de homenagear esse grande baluarte da educação jacobinense quando da inauguração do auditório da Câmara Municipal, no ano passado. Um dos vereadores lançou a proposta que o espaço fosse batizado com o nome do Professor Lourival. No entanto, o presidente do Legislativo à época preferiu homenagear o próprio pai, um gesto que refletiu uma perspectiva pessoal em detrimento do interesse público.
Apesar dessa falta de reconhecimento, o fato é que o nome do saudoso Professor Lourival está escrito em letras douradas na nossa história e será sempre lembrado pelas pessoas que direta ou indiretamente fizeram parte do Colégio Euzébio de Queiróz. Sua contribuição e legado continuam a inspirar gerações de educadores e outros profissionais em nosso município.
Fonte: TR Agora
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