Análise: pior derrota da história só surpreende quem não observou o último ano da Seleção Sub-20


Subiarte comemora o primeiro gol da Argentina sobre o Brasil no Sul-Americano Sub-20 — Foto: JUAN BARRETO / AFP


Antes de falar do jogo em si, é preciso falar de como a Seleção chegou para disputar a competição. Campeão continental da categoria em 2023, mas eliminado no Mundial meses depois para Israel, Ramon Menezes teve a demissão definida pelo presidente Ednaldo Rodrigues após a não classificação para os Jogos Olímpicos de Paris, há um ano, na mesma Venezuela. O dirigente falou abertamente a seus pares nos corredores da CBF, mas nunca a colocou em prática e deixou a categoria no "limbo" por duas Datas Fifa.

Estava prevista ainda a saída do coordenador Branco, mas a indefinição se prolongou até que os nomes foram mantidos no cargo. Neste cenário, o Brasil não teve calendário nem em março, nem em junho, com a geração se juntando pela primeira vez em setembro. As duas vitórias diante do México contaram com jogadores que em sua maioria não estão no Sul-Americano por não terem sido liberados por seus clubes, e as convocações de outubro e novembro foram apenas para treinamentos e jogos-treino, sem a realização de amistosos.

Foi neste cenário que o Brasil se preparou para encarar uma rotina que não é nova: a impotência diante da decisão dos clubes de não liberar seus principais jogadores. Passa de uma dezena o número de atletas que Ramon Menezes tinha em mente e não puderam sequer se apresentar na Granja, além de outros três que foram chamados de volta por "mudança de planos". Relatos que ajudam a entender, mas não justificam a goleada da noite de sexta-feira.

O paralelo com o 7 a 1 vai além da diferença de gols, passa muito pela apatia. Com dez minutos de bola rolando, o Brasil já perdia por 3 a 0 e via "El Diablito" Etcheverry, vendido pelo River Plate ao Manchester City, repetir o protagonismo da eliminação no Mundial Sub-17 dois anos atrás. Displicência e erros bobos na saída de bola resultaram nos dois primeiros gols e o lado esquerdo da defesa foi o ponto mais frágil de um time que sequer conseguia assustar o adversário.

Ramon Menezes conta com o respaldo do presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues — Foto: Rafael Ribeiro / CBF

Detalhar o jogo em si é missão impossível diante de um roteiro onde os argentinos tiveram o tempo inteiro o controle e as melhores chances. E não dá nem para falar em esboço de reação na volta do segundo tempo com as três mudanças promovidas por Ramon, quando aos 6 a aos 8 a Argentina novamente aproveitou-se de espaços pelo lado esquerdo da defesa para fazer 5 a 0.

Apático e atordoado, o Brasil parecia rezar pelo fim do jogo diante de um adversário que, mesmo sem fazer força, se aproximava do sexto gol. E ele saiu após pressão que resultou em dois escanteios, até que Hidalgo, livre, cabeceou para marcar o 6 a 0.

Ednaldo Rodrigues é presidente da CBF — Foto: Vitor Silva/CBF



Crucificar jovens como Moscardo, que deixou o gramado pedindo desculpas ao torcedor, seria tornar ainda mais cruel aquela que provavelmente é a pior noite da breve carreira desses meninos. O 6 a 0 é apenas o reflexo de uma gestão que deixou o futebol de base em segundo plano, não demonstrou convicção nas decisões e ficou marcada negativamente na história.

Domingo, o compromisso será contra a Bolívia. Com três jogos pela frente (Bolívia, Colômbia e Equador), o Brasil precisa se recuperar rapidamente para chegar entre os três que avançam pelo Grupo B ao hexagonal final. São quatro as vagas no Mundial do Chile, entre setembro e outubro. Mas tudo isso será complemento de uma história que ficará marcada pela pior derrota da história da Seleção Sub-20 em jogos oficiais.

Se perder de 6 a 0 é ruim, perder para a Argentina é ruim demais.

Fonte: ge

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